sílabas são cristais em mim,
quando te oiço,
quando se rompe no coração o som dilacerado da minha,
da tua despedaçada voz... guardamos a solidão no simultâneo tombar das águas,
onde fomos corpos em silêncio,
num qualquer momento...
ESCUTA-ME NA SOLIDÃO QUE SE ABRE...
ONDE NÃO DOA O NOSSO INEXPLICÁVEL SILÊNCIO...
AMO-TE!!...
afonso homem
caminharei na forma como danças ungidos cabelos interditos. és um templo perseguido no vento solitário e escuro, que te chora num dia antes de mim... acordo-te, em tenebrosos espelhos, que velozes, acendem a escuridão e, o meu corpo, traz a pressa do silêncio... movimento-me, nos teus olhos de lírios extraordinários, na ondulação do mundo... pertubas o meu mais fundo coração de linho, que se esconde nas margens crepúsculares... nocturnas... aquáticas... lunares... tens na pele, a brancura e a velocidade dos cometas, outros mundos de compassos, e os meus pianos de luz... sento-me, na tua aura encoberta, que desvenda o que te escrevo sobre as montanhas luminosas do teu magoante sorriso. descobri-te no lamento permanente, que continua a brincar em mim... num gemido lunar... o desejo levantou-se, no filamento silencioso do sonho tenebroso e urgente do luar... depois, regressando ao que sou, eu sei, que és a constelação magnífica e perfeita, no início de mim... dou-te a paixão das sombras, e o coração devastado das aves... feres-me a solidão dentro do lume, frágil gota de uma luz... DE MIM, ATÉ À ETERNIDADE, MURMURO-TE SUAVES PALAVRAS DE SILÊNCIO...
afonso homem
fire swan
photo by: jonas amadeo lucas
cisne de luz
trago um Deus pela mão sem luz, e um coração de sombra... pelos olhos, extraordinários rochedos e a rebentação das ondas... margens e um luar de silêncio... e, se eu, te procurasse como um cisne de luz, onde o céu é uma forma azul doente, de distância?... acenderias o sol com um sorriso? dormiríamos, dentro dos oceanos perturbados, dentro dos livros que nos pertencem... é na metade de uma boca, que a outra ansiosa metade, se encontra... sou um corpo de coral, na profundidade dos dilúvios atlânticos... sou uma estrela do mar... sou a luz quadrangular do medo, um pedaço de gota lunar... afonso homem
by: desconhecido
LUZ??...
luz???
vou espessar as veias
na nervura da penumbra...
na textura do teu amanhecer,
muito para além
do que és crepúsculo...
o horizonte,
é um espaço que não se come,
minúsculo na boca em que és manhã...
agita-se, num detalhe,
num veludo nocturno onde me oculto e permaneço...
luz???
é esta capa que me enluto,
minuciosamente,
em cada saliva amarga do corpo.
morro,
à entrada das águas
num fundo quieto...
a maré,
é uma lâmina, ali,
adiante,
onde se diminui o corpo inteiro do silêncio...
demoradamente marinho...
luz???
é um dedo que estrangulo,
voando,
em planícies do que não te escrevo...
do murmúrio,
à proximidade da escuridão.
e, em pleno voo das cores,
o negro propaga o mel
no elemento único e imutável
da distância,
no próximo fogo deslumbrado...
tardíssimo...
eu sonho...
tu sonhas... harpas,
a iluminaçãoe a nudez,
onde recolho o sono e o meu olhar...
luz???
é dentro da pele,
que me faço escuro,
desabitado,
nem sequer atento,
quando os ventos entardecerem
o desejo insuspeito do mais raro silêncio...
dói-me apenas,
um Deus de coral, na superfície do mar!!...
guardei-te,
amor... amor... amor...
no início perfeito,
longe do dia.
vivo,
na fissura da morte,
SEM LUZ!!...
primeira mãe,
que me fez nascer...
luz???
escondo-me,
apenas num coração de pedra,
no mais próximo,
no mais doce medronho,
no alçapão mais escombro.
da solidão à sombra mais vasta
e não me há-de bastar...
esse que nunca foi sonho...
luz???
Deus!!
MORRI !!!...
e dentro da tristeza mais funda,
chamo-me: SOMBRA!!...
do início
ao silêncio...
afonso homem
inside
by: daunhaus
hoje, chorei-me de ti...
ficaste fantasmas na transformação dos gestos desarrumados, atirados à pressa nas gavetas desordenadas do corpo, numa qualquer falta de tempo para os ordenar.
arrumei-te nesse sótão en construção, nessa gigantesca ruína do que sou...
já não te trago pela metamorfose das mãos.
nas unhas...
já não te vejo na secura dos dias.
já não te carrego pela longitude das horas.
no sorriso...
talvez porque chovia...
talvez porque te lembrei...
talvez porque te rasguei num quadro de Basquiat...
talvez porque deveria ter-te perguntado : porquê??
é que isto de coabitar a vida inteira com a incerteza e a dúvida,
dá-nos a sensação que o abismo se fecunda no corpo e o fel da boca se faz sangue...
- perdeste a fé!... dizem-me.
deve ser isso, perdi a fé!...
mas o que é isso de fé??... um raro poema de asfixia?...
um injúria?...
um pedaço escasso e ansioso de tempo?...
uma vertigem?...
um húmido escombro?...
uma espera?...
um majestoso piano de cauda que nos acende o sono?...
se ao menos eu soubesse o que é um piano... a música viria logo a seguir. e disso não duvido.
mas não vejo o sono entrar pela porta escancarada do meu quarto molhado de me ter chorado...
talvez escute o compassado tocar das teclas a milhas daqui, num outro espaço reservado de ausências síncopadas no desmaio matinal da manhã.
acendo mais um pequeno pau de incenso. jasmim!!...
o aroma vai impregnando a sala, e já foste jasmim aqui!!...
resíduo víciante deste fumo baço das horas demoradas e inúteis que cospem dos ponteiros que me marcam a vida.
continuas a olhar-me de uma forma estranha... continuas a estar ausente de mim...
revisitei esse esgar vezes sem conta como ópio, lembrei esse vício opiante dos teus olhos, mas apenas encontrei as dunas de um deserto maior...
FAZES-ME FALTA!!!
hoje e todos os dias que me lembro!...
e continuo ausente de ti...
e nunca este Outono copioso de chuvas breves, me foi tão longo...
o Outono mais longo da minha vida...
por onde se esconderam as estações??
tímidas e envergonhadas, aninham-se meninas nas margens do teu rosto.
e há dias, em que os dias se fecharam assim...
na tontura das noites despidas que sozinho me cobri.
hei-de filtrar a tua urgência, hei-de coar a tua exuberância, como luz,
como um fosso na mordedura do meu silêncio...
que grande arquitectura tem o silêncio na respiração dos gestos!!...
neste arrastar longìnquo dos membros, neste ventre protector, nesta fria placenta onde me escondo, neste encerado soalho do corpo... pedras mansas...
fui eu que me proibi no conforto, fui eu que me impedi no sossego, e cansei as pálpebras dos dias no desconforto, no desassossego que pernoitou na cama desfeita das horas...
depurei os teus graus num outro hemisfério, rendido às evidências da distância do mesmo gesto que um dia escreveste em mim, ou apagaste a latitude sem medida, sem contorno, do teu paradeiro desconhecido no globo terrestre da memória...
lugares por onde andaste, neste mapa minucioso da minha pele...
já não ando na escola para aprender o nome dos continentes que inventámos por aí, o nome desses novíssimos mares por onde naufragámos, o nome desse amor que nos uniu...
hoje, tudo aqui,
são apenas corações em silêncio...
restos mortais das palavras transladadas à luz dos meus dias...
hoje, chorei-me de ti!!...
afonso homem
in desconhecido
europa, plano nocturno
" não há portas para os territórios familiares da dor, não há como conter a violência dentro do ninho de uma pertença. há apenas a dor, cintilando como um clarão no chumbo do céu, chuva de estrelas cadentes sem História nem mártires reconhecíveis. porque há sempre uma noite mais escura do que a escuridão do mundo. mesmo para quem, como eu, nunca soube escavar até ao fundo dessa gruta negra, trans-siberiana, húmida, universal, a que chamamos coração."
inês pedrosa in Fica Comigo Esta Noite
another ghost story
by: moonshine
poética
sobrei-me sombra no corpo dos dias, tão perto restei-me luz. percorri ruas cheias de um vazio por onde me inventei... pilhei cidades inteiras de pranto, mas não venci... nada me existe em tão rigorosa margem que me hesito. nada me vive em tão estranha superfície que me exijo. deixei-a sem rumo, isenta de mil destinos... e por agora, só te sei falar assim... por dunas demoradas de alquimia, por poemas e montanhas, por um outro azul que se há-de partir de mim...
afonso homem
sayeva
by: kubawojewoda
agora...
pressenti o apagar do corpo na iluminação da noite... quis deslocar-me ao outro lado das águas, e, molho o olhar na espessura do teu habitante silêncio... tenho este que me pertence, o cansado medo do mundo... tomaste banho na voz que quebro, no fim do olhar da tua passagem agarrada ao peito. fomos envelhecendo silenciosamente, por entre a paixão sem darmos por isso... enquanto a noite dorme num dia limpo, a cada luz que eu posso pousar. há-de o frio amanhecer, a cada quente imaginar da luz ao visitares-me, repentinamente, no último debruçar do silêncio...
afonso homem
" é com os dedos incendiados que enterro os dias - esta poeira brilhante que se desprende dos cedros e cai na fissura entre a máscara e o rosto
um lume maligno solta-se então das águas a pele adquire o sabor do estuque e do bolor não há morte ou paixão que esta cidade não conheça - mas o corpo
não se lembra de tudo - a noite ardendo desperta o coração - este palácio de plâncton e de fantasmas com asas de sombra
depois talvez se ouça o canto quase límpido do mundo - cinzas onde mergulho para abrir o tempo e visitar tuas mãos que a lucidez do amor escureceu. "
AL BERTO
à mesa de cabeceira
a ler: à tua espera - JULIETA MONGINHO
a ver: NUNCA É TARDE DEMAIS - com jack nicholson and morgan freeman
a ouvir: nem lhe tocava - SAMUEL ÚRIA
íntimissimus
" a vida é um sonho, cuja morte nos desperta." HODJVIRI
" o homem é o único animal amigo das vítimas que come" " cada homem é imortal. pode saber que vai morrer, mas nunca saberá que está morto." SAMUEL BUTLER
" há pessoas a quem a morte dá uma existência." LOUIS SCUTENAIRE
" o facto de estar morto não prova que ele tenha vivido." STANISLAW-JEREZY LEC
o nascer do silêncio
" o tempo perguntou-me : - quem és? respondi-lhe : - apenas uma sombra de ninguém... e depois, nasceu o silêncio!..." AFONSO HOMEM
ao meu filho
"o recém nascido não sabe que quando aperta pela primeira vez, com as suas mãos pequeninas, o dedo do seu pai, o mantém prisioneiro para sempre"
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