segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

noite polar

enquanto perguntas,
escrevo lugares por aí...
depois,
amanheço cidades
que ninguém inventou...
na margem apressada onde a pele
se acende e as tempestades
irão gemer o teu mais
doce nome que por mim invento...
durmo-me, lencóis sem corpo,
em catedrais majestosas do silêncio...
não permaneço no despertar
do dia que acorda.
cubro-me, no frio calado
que nada me diz de ti...
tempo do mesmo tempo
que descobre o teu sorriso
que em mim, nunca escondeste...
são as mãos que se entrelaçam,
quentes,
no acordar de uma cama breve,
no levantar hospedeiro,
de uma qualquer manhã...
há-de surgir um rasto,
um cometa de infinitas existências,
quando eu, silêncio,
te tocar como linho.
parei na vida...
quando a luz me escurecer,
na mais distante janela aquática
que se abrir...
e o mundo,
há-de fechar-se
quando dormires num sono
de poemas intímos,
tão próximos de nós,
tão distantes de mim...
é esse teu frágil corpo
incerto que me pergunta
porque escrevo estas mariposas inteiras de ternura...
na espuma dos dias,
a tristeza entra despida
na única porta que fechei
como chuva...
e Deus!...
como dei por mim...
num castelo que esculpi...
das palavras, ao instante de uma estrela que tombei por ti,
nas distâncias longas que quiseste
tatuar em mim...
pois mais morto me terão,
por essa luz que não me deixaram ser...
e se, se inventar um sol Índico,
hei-de ser a noite polar...

afonso homem



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