sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Joana, um rosto

"para mim, Joana seria apenas um nome se não tivesse visto o seu rosto num email com uma foto acompanhando a notícia do seu desaparecimento. um rosto, qualquer rosto, é sempre o nosso próprio rosto que nos olha do fundo de nós. e, também eu, "sempre que vejo escrito nos jornais/ de casa de seus pais desapareceu,/ embora sejam outros os sinais/ fico sempre a pensar que era eu". soube agora que Joana "apareceu "morta. morta. tinha 14 anos, o tempo de um suspiro. custa a crer que a morte tenha poder sobre um rosto. um rosto é algo de nós que não nos pertence, pertence a outros. o de Joana, olhando-me daquela fotografia, pertence-me desde então e não sou capaz de abrir mão dele para a morte. não quero ver a dor, o horror, "la sangre no quero verla". hoje, limpando a caixa de entrada do gmail, fiquei diante dele. vendo-o, vendo-me, senti que de alguma forma também eu lhe pertencia. e que , se o apagasse, me trairia. a lista de contactos do meu telemóvel está também cheia de nomes de mortos e de números de telefone de onde ninguém já responde. POIS COMO PODEMOS ACEITAR A BRUTAL DESPROPORÇÃO DA MORTE?" manuel antónio pina

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