sábado, 25 de dezembro de 2010

glaciar de um silêncio azul


decidi,
da insónia,
fascinado,
um paciente e desprendido
regressar ao olhar
submetido ao súbito veludo
de uma harpa...
não consigo esquecer
o vago que me isolou...
se uma cítara,
se o interior granítico
do pólen...
não há ventos
que se sosseguem
próximos dos cemitérios
sostenidos de uma gota solta,
vagarosamente nota...
música...
silêncio...
atrevo-me,
flutuante no sorriso,
despedir-me do som sulcado,
em círculos escondidos
de memórias...
que os dedos surpreendam
o lugar,
a forma,
que se há-de desprender
no habitante medo
que desabar de um coração
que ainda oiço latejar...
"não há-de chover sempre..."
não consigo despertar
a vida,
entre a noite e o dia,
porque,
não morre em mim,
o suspiro,
o desejo que amanheças...
cegar-me-ia,
essa excessiva claridade,
que por um instante,
te fizesse existir...
posso suportar a sombra,
mas nunca uma luz tocada,
que me aquecesse,
que me ferisse...
acabo assim,
dormindo...
morrendo...
houve um dia,
que consegui ser eu...
contigo!..
depois,
quase nada...
neste iluminado
glaciar azul do impossível...


afonso homem

Sem comentários: